terça-feira, 21 de dezembro de 2010

UOL fala sobre MCR

O site UOL:
My Chemical Romance diz que novo disco é uma resposta à "cultura de rock trintona segura"
Após o sucesso duplamente platinado de "The Black Parade" (2006), o My Chemical Romance decidiu marchar em um ritmo diferente em seu novo álbum. E demorou um pouco para a banda encontrar o ritmo certo para "Danger Days: The True Lives of the Fabulous Killjoys". Segundo o cantor Gerard Way, a banda gravou um álbum inteiro, apenas para descartá-lo e começar tudo de novo. "Não ficou bom, não fizemos o melhor que podíamos. Retiramos muito do que era especial a respeito da banda e não restou nada. Passamos um ano fazendo isso e então descartamos, e dissemos: 'oK, vamos fazer algo incrível!'".
My Chemical Romance estava firmemente em ascensão quando lançou "The Black Parade", um álbum conceitual sociopolítico ambiciosamente exagerado, para o qual a banda de rock de Nova Jersey adotou o alter ego de Black Parade, borrando a linha que divide realidade e ficção. O álbum estreou no segundo lugar na parada Billboard 200 e ganhou uma indicação ao prêmio Grammy, enquanto "Welcome to the Black Parade" se tornou um single platinado.
 
Mas o álbum foi perseguido por uma reação negativa, e pegou a banda de surpresa. "'The Black Parade' foi incompreendido, deturpado ou mal interpretado", diz Way, de 33 anos, que formou o My Chemical Romance em 2001, após estudar na Escola de Artes Visuais de Nova York. "Ocorreram alguns crimes de ódio contra esses garotos que apenas estavam vestidos de preto, e a mídia --especialmente os tablóides no Reino Unido-- pintaram esses alvos gigantes nesses garotos e transformaram isso em algo par
a vender jornais".
Tudo isso, ele reconhece, deixou a banda tímida em relação ao seu próximo trabalho. "Foi como se, inicialmente, tantássemos não fazer nenhum barulho e nem balançar o barco, para não passarmos por aquilo de novo e nem submeter nossos fãs a algo assim. Foi uma reação protetora estranha, até mesmo covarde, do tipo 'eu não quero passar por isso de novo, então não vamos fazer algo melhor'".
 
O resultado, ele diz, decididamente não era incrível. "Precisava de algo especial. Era um álbum de rock, mas muito tedioso. Para mim, os melhores álbuns de rock são como 'Never Mind the Bollocks' [dos Sex Pistols, 1977] ou 'Combat Rock' [do Clash, 1982], que desafiavam a noção do que era o rock. Ao tentar criar este grande álbum de rock americano, acabamos criando algo ruim. Era uma coleção de canções que não se encaixavam. Estávamos colocando as coisas em ordem de modo bastante tedioso".
 
Ao perceber isso, ele e seus companheiros de banda --o irmão Mikey Way, o baixista, e os guitarristas Frank Iero e Ray Toro-- voltaram ao co-produtor de "Black Parade", Rob Cavallo, e rapidamente mudaram de marcha criativa. "Foi algo como 'vamos fazer mais barulho do que jamais fizemos. Vamos usar cor, arte, contaminar e irradiar. Vamos pintar um alvo em nós agora'. Era uma rebelião contra sermos assimilados por uma cultura de rock trintona bastante segura, onde você basicamente desiste".
 
Dos quadrinhos para as caixas de som
"Danger Days" --que no final de novembro estreou no oitavo lugar na parada Billboard 200, com vendas na primeira semana de 113 mil cópias-- nasceu na verdade como uma ideia para uma revista em quadrinhos chamada "The True Lives of the Fabulous Killjoys". Segundo Way, seria "uma transmissão por rádio pirata em 2019 contra uma espécie de cidade utópica corporativa asséptica, onde é muito fácil viver e suas emoções são entregues a você em forma de pílula".
 
Ele explica que fora dessa cidade há uma zona de desertos, onde há o domínio dos Fabulous Killjoys (ou "os fabulosos estraga-prazeres") e outros rebeldes, que são "realmente perigosos, mas estão livres". "Não é uma história intensa, mas a ideia é algo do tipo 'você continuaria correndo para ser livre?' E, como uma metáfora completa para tudo, os Killjoys representam a arte contra a assepsia corporativa".
Way acrescenta que os Fabulous Killjoys, um quarteto com cada personagem servindo como contraparte para cada integrante do My Chemical Romance, estão longe de ser cavaleiros em armaduras reluzentes. "É apenas uma gangue de sobrevivencialistas, totalmente fora-da-lei", diz ele, que ainda planeja publicar os quadrinhos dos "Fabulous Killjoys".
 
"Eu não os vejo como mocinhos. Na verdade, eu não vejo ninguém como mocinho ou bandido. São apenas dois pontos de vista opostos. Mas para mim, o que realmente representa, são as bandas, os fãs e os artistas que encontramos ao longo do caminho, que construíram este álbum e nos inspirou essa coisa incrível desafiadora", ele fala.
 
Passar dos quadrinhos para um álbum de rock não foi difícil, acrescenta Way. "A música realmente informou o que eu queria dizer. É quase como se não pudesse existir um sem o outro. Eu não teria escrito aquelas letras sem a música, mas tudo o que eu queria dizer naquela história em quadrinhos é o que também acabei dizendo em 'Danger Days', o que fez os projetos parecerem irmãos".
 
A parte mais difícil, diz Way, foi encontrar o som para esta história em particular. "A música tinha que ser perigosa. Era preciso se apossar das batidas e do pop, hip-hop, dance music e eletrônica, e usá-la para seu próprio propósito. A única forma de dizer o que eu queria dizer era com esse tipo de música".
 
Satisfeitos com "Danger Days"
A primeira a surgir das 15 faixas de "Danger Days" foi "Na Na Na (Na Na Na Na Na Na Na Na Na)", que também se transformou no primeiro single do álbum e um primeiro lugar instantâneo na parada de rock britânica. "Pensei: 'se vamos partir para um trabalho conceitual, vamos precisar de uma canção-tema'. E ela é superesnobe e tribal. É uma melodia que você já ouviu um milhão de vezes, mas essa é a ideia, porque nós nos apossamos da melodia".
 
Way conta que as origens de "Na Na Na" talvez estejam na história nativo-americana ingressado nos desenhos animados. "Seria [da série de televisão infantil dos anos 60] dos 'Banana Splits'? Possivelmente. É engraçado, porque não há outra canção como 'Na Na Na' no álbum. Eu queria que fosse superidiota e muito honesto quando a cantasse, e queria dizer coisas que potencialmente me colocaria em apuros".
"Planetary (Go!)" mergulha mais fundo no som eletrônico das discotecas do que o My Chemical Romance já se aventurou antes. "Nós sempre usamos esse tipo de canção eletrônica, com uma pegada dance, mas sempre mergulhamos apenas o dedo do pé na água e saltamos rápido para fora. Mas desta vez toda a faixa é eletrônica e, de fato, não uma coisa de banda de rock".
 
"S/C/A/R/E/C/R/O/W", por outro lado, parece algo da fase final dos Beatles. "Começamos a falar sobre 'Magical Mystery Tour' (1967), que não era um álbum conceitual, mas tinha um conceito, e o criaram à medida que o projeto foi avançando, fazendo um filme sem muito sentido, mas que tinha todas as cores e a jornada psicodélica pelo deserto em um ônibus. Acho que isso meio que entrou no DNA [de 'Danger Days'], a ponto de também precisarmos de algo psicodélico".
 
Tudo funciona junto, mas Way diz que "Danger Days" é mais flexível do que "The Black Parade", especialmente quando se trata de shows: o My Chemical Romance costumava tocar "The Black Parade" na íntegra, mas a banda não queria ficar tão amarrada desta vez. "Não era espontâneo e a certa altura deixou de ser divertido, então agora é vale tudo. Podemos tocar as canções em qualquer ordem, quantas quisermos, tocar todas ou não tocar nenhuma. Renovamos o espírito com este álbum e queremos tocar 'Danger Days', mas misturando com as canções antigas", ele fala.
 
Apesar de o novo álbum ter uma sonoridade marcadamente diferente de "The Black Parade" --e de seus dois álbuns anteriores-- Way diz não estar preocupado com a reação dos fãs do My Chemical Romance. "Minha esposa diz que as consequências são secundárias, o que é correto. Não estou dizendo que isso não é importante, porque é, mas não é tão importante quanto fazermos o álbum. Nossa satisfação tinha que vir em primeiro lugar, antes de qualquer outra coisa".

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